Alimentos criados em laboratórios estão longe de ser bons para a saúde e o meio ambiente

Alimentos criados em laboratórios estão longe de ser bons para a saúde e o meio ambiente

Contrário ao que afirmam, as carnes feitas à base de vegetais por indústrias startups que visam atrair consumidores veganos, vegetarianos e até mesmo os apaixonados por carne, são, na verdade, produtos altamente processados, vindos do Vale do Silício e não da mãe natureza. Foi assim que nasceram as empresas “Impossible Foods” e “Beyond Meat”, com investimentos de bilionários como Bill Gates.

As empresas que apostaram nas carnes à base de vegetais ainda vêm ajustando as receitas dos burgers, na tentativa de agradar cada vez mais os consumidores e atrair novos clientes. A última geração do hambúrguer impossível (Impossible Burger) pretende ser uma versão menos ruim do que a primeira, do ponto de vista do sabor, aspecto e valor nutritivo. Assim, a nova receita tem 40% menos gordura saturada, mais proteína e o glúten da receita original, vilão para uma população cada vez mais sensível à proteína, foi substituído pela soja, principal componente da carne falsa. No entanto, tanto a proteína de soja concentrada como a proteína de soja isolada usadas na fabricação, são grãos geneticamente modificados. Provavelmente, escolhidos por se tratar de grãos mais baratos do que a soja orgânica, que não somente têm níveis mais altos de proteínas, mas também menos ômega 6 (o atual consumo elevado de óleos vegetais está associado ao aumento de ômega 6 nas dietas e possíveis problemas de arteriosclerose, coronários e outros).

Para sobreviver ao ataque e deleite das pragas, as monoculturas com grãos geneticamente modificados, como é o caso da soja, são pulverizadas com enormes quantidades de pesticidas, herbicidas e fertilizantes. Não existe a menor chance dessas culturas sobreviverem sem o uso de muitos produtos químicos, pois a não diversificação das culturas é o paraíso das pragas. Alguns outros problemas com a monocultura incluem: acabam com os nutrientes do solo, contaminam o suprimento natural de água, afetam negativamente o ecossistema natural, usam enormes volumes de água para irrigação, os solos são susceptíveis à erosão e degradação.

Portanto, até aqui já temos sérios problemas associados ao hambúrguer de mentira e nenhum benefício para a saúde ou meio ambiente, pois o grão de soja geneticamente modificado para resistir ao tratamento maciço com produtos químicos, que o seu aparelho digestivo não saberá direito o que fazer com ele, e a ingestão de pesticidas e herbicidas que certamente acabarão no produto que, ingenuamente, você acreditou ser bom para a sua saúde, deixam claro que estamos sendo, aparentemente, iludidos.

Obviamente, você não sentirá o gosto desses produtos químicos, pois muito embora a empresa não divulgue o processo, o álcool é o solvente mais usado para processar a proteína concentrada de soja, pois produz um gosto neutro. A grande desvantagem, porém, é que possíveis benefícios associados as isoflavonas presentes na soja, como poderoso antioxidante, são removidas no processo.

Outra questão associada ao hambúrguer que “sangra”, como se fosse carne de verdade, é o novo aditivo de cor geneticamente modificado. Para viabilizar o processo, a “Impossible Foods” usa o DNA da raiz da soja, de onde são extraídas pequenas quantidades de “heme”. O composto orgânico é inserido em culturas de fungos geneticamente modificados e através de processos de fermentação são produzidas grandes quantidades de “heme”, que confere à carne de mentira a cor “vermelhinha”.

O uso do novo composto químico, geneticamente modificado, deveria ter sido submetido a um estudo de saúde de longo prazo. No entanto, em maio de 2021, muito embora a aprovação do produto tenha sido questionada na corte pelo Centro de Segurança para Alimentos (Center For Food Safty), o FDA aprovou o aditivo mesmo depois da própria empresa, “Impossible Foods”, indicar que estudos preliminares com animais, em laboratório, mostraram riscos de saúde como coágulos sanguíneos, anemia e danos aos rins.

Com a aprovação, o FDA sacramenta o uso do novo aditivo geneticamente modificado não somente para a empresa “Impossible Foods”, mas também para qualquer outra companhia de carnes feitas a base de vegetais. Embora o Centro de Segurança para Alimentos defenda a adoção de dietas a base de vegetais, a organização implora aos consumidores que evitem comer esses hambúrgueres de mentira geneticamente modificados.

A “Beyond Meat” tem uma estória um pouco diferente, mas nem por isso melhor, pois também defende a idéia questionável de fabricar produtos alternativos saudáveis e sustentáveis. Então, como criar um hambúrguer à base de vegetais que seja suculento e “sangre” como se fosse carne de verdade? A resposta encontrada foi com o uso de 20 ingredientes altamente processados. E aí começam os problemas, pois alimentos processados não se enquadram na definição de bons para a saúde.

Para criar o hambúrguer com cara de carne a empresa optou pela proteína isolada da ervilha, diversos óleos, incluindo o óleo de canola, manteiga de cacau, proteína de feijão mung e metil celulose. Embora a “Beyond Meat” relacione o espessante, metil celulose, como sendo algo natural, o composto químico, embora venha da celulose de plantas e vegetais, é um produto sintético e de difícil digestão. Sim, pois não temos a enzima celulase. Embora aprovado pelo FDA, o melhor seria consumir com moderação, mas o composto está presente em tudo que consumimos, desde salsichas até sorvetes. Então fica difícil evitar. Outros produtos presentes na carne à base de vegetais são: o amido de batata, extrato de maçã, sal, cloreto de potássio, vinagre, suco de limão, lecitina de girassol, romã em pó e extrato de suco de beterraba (este confere ao burguer o “sangue da carne”).

Mas as dúvidas e críticas não param por aí e analistas defensores do meio-ambiente argumentam que muito embora a “Impossible Foods” e a “Beyond Meat” tenham apresentado alguns dados de emissão de gás, não ficou claro o volume total da operação. Assim, não está comprovado que realmente as empresas contribuem com menos emissão de CO2.

No Brasil algumas marcas também se destacam como a The New Butchers e Fazenda do Futuro, e invadem mercados como Pão de Açúcar e Extra dividindo prateleiras com produtos à base de carne de verdade. As tecnologias têm origem nas empresas que ajudaram as norte-americanas, “Impossible Foods” e “Beyond Meat” a se estabelecerem, portanto os ingredientes usados para chegar ao hambúrguer nacional à base de vegetais não diferem muito dos antecessores. A ervilha, um dos ingredientes de base preferidos pelos fabricantes, passa por processos industriais para ter sua proteína vegetal isolada e transformada em pó —e emite um bocado de CO2 para chegar ao Brasil.

“Acho a propaganda enganosa em termos de sustentabilidade. São poucos os fabricantes de proteína de ervilha no mundo e não é sustentável trazer o produto de outro continente”, afirma Marco Antonio Trindade, pesquisador de produtos de carne do Departamento de Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (USP).

Por falar em propaganda enganosa, as fazendas Don Lee (Don Lee Farms) entraram com um processo, em junho de 2022, contra a “Beyond Meat” e o CEO Ethan Brown, alegando propaganda falsa e práticas de negociações fraudulentas. Os argumentos giram em torno das alegações da companhia de “compromisso com tudo que é natural” para clientes, parceiros de negócio, distribuidores e investidores, mas o uso do produto sintético metil celulose mostra o contrário. Outra queixa indica que a companhia teria elevado em mais de 30% o conteúdo de proteína nos rótulos, ocasionando a distribuição de produtos com informação falsa.

Diante de um mercado tão novo, com tantas controvérsias e de pouca credibilidade, o melhor mesmo é dar suporte às fazendas regenerativas. Estas sim, envolvem práticas agrícolas e de pastoreio que, entre outros benefícios, revertem as mudanças climáticas ao reconstruir a matéria orgânica do solo e restaurar a biodiversidade degradada do solo – resultando tanto na redução de carbono quanto na melhoria do ciclo da água.

Por Florence Rei, Agosto/2022
Química, Bióloga e Escritora Independente
contato: florence.rei.florence@gmail.com

Redação

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