Fisioterapeuta identifica técnicas eficazes contra problema respiratório frequente em bebês
Estudo avaliou eficácia de protocolo de técnicas em bebês de até dois anos com atelectasia, uma complicação gerada por doenças respiratórias como bronquiolite e asma
Segundo a Fiocruz, em 2023, 153 mil bebês foram hospitalizados por problemas respiratórios. A atelectasia está entre as consequências mais frequentes das doenças respiratórias e acontece quando, por causas diversas, a totalidade ou parte de um pulmão fica sem ar devido à obstrução dos alvéolos (pequenas bolsas responsáveis pelas trocas gasosas), perde seu volume e entra em colapso.
A fisioterapia respiratória é parte importante do tratamento nesses casos. Pensando nisso, a pesquisadora Patrícia Camassuti desenvolveu um protocolo para a aplicação do procedimento em bebês de até dois anos, internados e intubados ou traqueostomizados, que se mostrou eficaz na melhora do quadro.
Apesar de ser frequentemente indicada e realizada em crianças em suporte ventilatório invasivo – quando o paciente precisa de um aparelho que media a respiração – “não existia nada na literatura [sobre protocolos de fisioterapia respiratória em atelectasia], então a gente foi ver o que conseguiríamos encontrar de técnicas para alinhar [o que seria incluído no protocolo]”, diz Patrícia.
No total, participaram do estudo 30 lactentes – crianças com idades entre 28 dias e 2 anos –, com diagnóstico de atelectasia, internados no Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, em São Paulo. Metade das crianças foi submetida ao protocolo. “A gente comparou as crianças que eram atendidas sem o protocolo, mas que recebiam atendimento da fisioterapia, e crianças que recebiam atendimento do protocolo”, detalha a pesquisadora.
Para avaliar a melhora nos pacientes, ela utilizou como parâmetro imagens de ultrassonografia, antes e após a fisioterapia, e o esforço respiratório. Houve melhora nos dois grupos, mas nas crianças que passaram pelo protocolo, na ultrassonografia feita após a intervenção, o efeito foi quase 3 vezes maior, e na melhora no esforço respiratório, quase um e meio.
A fisioterapeuta evidencia que o protocolo é seguro para crianças em suporte ventilatório. “Além de oferecer bons resultados na desobstrução das vias aéreas e na reexpansão pulmonar, ele foi seguro, porque nenhuma criança piorou em nenhum momento, não teve queda de saturação [quantidade de oxigênio circulando no corpo] ou perdeu o tubo”.
O protocolo
Para participar do estudo sobre a aplicação do protocolo estruturado de fisioterapia respiratória, como foi chamado pelas pesquisadoras, as crianças deveriam ter o diagnóstico de atelectasia feito por um médico mediante exame clínico e raio-x. Com as crianças incluídas, Patrícia utilizou a ultrassonografia para comparar os efeitos. “Nenhum estudo havia sido realizado utilizando ultrassonografia pulmonar, em tempo real, para identificar a abertura, ou não, das áreas de colapso pulmonar antes comparativamente com após os procedimentos de fisioterapia respiratória”, destaca Cintia Johnston, professora do programa de pós-graduação em pediatria do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e orientadora da pesquisa.
O protocolo é composto de cinco técnicas: drenagem postural, vibração torácica mecânica com massageador, hiperinsuflação manual com bolsa autoinflável, alongamentos da musculatura respiratória acessória e posicionamento funcional.
A aplicação começa com o posicionamento da criança, colocada de lado e com o leito elevado (drenagem postural), para receber a vibração torácica com massageador. As duas técnicas unidas levam à fluidificação e movimentação da secreção no pulmão. Em seguida, Patrícia Camassuti utiliza a hiperinsuflação manual, em que através de uma bolsa que a pesquisadora aperta, envia um fluxo de oxigênio, que gera a simulação de uma tosse e estimula a saída da secreção. Por último, o bebê é colocado em posicionamento funcional para alongar os músculos que auxiliam na respiração. Nessa ordem, o protocolo estimula a expulsão da secreção, que pode causar obstrução, uma das causas da atelectasia.
As imagens do ultrassom foram analisadas por um médico, que não sabia qual criança tinha sido submetida à fisioterapia respiratória, e que sinalizava a melhora do quadro. A pesquisa contou com um grupo pequeno de crianças, mas a ideia é seguir testando o protocolo, dessa vez em centros maiores.
Por que criar um protocolo?
“Quando a gente traça uma linha, conseguimos otimizar o nosso trabalho e o tempo da criança internada”, explica Patrícia Camassuti. A criação e aplicação do protocolo, de acordo com Cintia Johnston, “influenciam diretamente no diagnóstico funcional das atelectasias pulmonares, no uso de procedimentos efetivos e, consequentemente, aumentam a segurança e eficiência das condutas do fisioterapeuta intensivista”.
Entre as preocupações que uma atelectasia traz, está a de que a internação se estenda. “Uma criança que tem aquela imagem no raio-x [com diagnóstico de atelectasia] vai ter outras complicações, e vai demorar mais para tirar o tubo. Ela vai ficar mais tempo internada e sujeita a mais complicações”, detalha a pesquisadora.
Por isso, “o principal impacto [da aplicação do protocolo] se relaciona a resolver uma complicação respiratória, no caso as atelectasias pulmonares, de forma efetiva, evitando as complicações decorrentes da sua perpetuação [como maior tempo de internação e exposição a outras infecções]”, finaliza Cintia Johnston.
Informações do Jornal da USP, por Patrícia Camassuti e Cintia Johnston